segunda-feira, 25 de agosto de 2008


Inspirada pela Bienal, resolvi colocar alguns trechos das duas escritoras que mais gosto, Clarice Lispector e Fernada Young, são escritoras bem distintas no modo de escrever, Clarice mais romântica e serena, Fernada mais viceral e no entanto escrevem como ninguém sobre o mesmo tema.


"...Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio...."
Clarice Lispector
"......O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição...."
Clarice Lispector
"......Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo....."
Clarice Lispector

"....Sofrimento amoroso, a dor mais inspiradora e mais perversa. Pois a profundidade do sentimento que acabou atinge camadas até então intocadas. Não deu certo, e você tinha toda a certeza que havia achado a pessoa da sua vida. Mil desentendimentos foram suficientes para acabar com tudo. E dói. Porque, se é como um edredom de penas de ganso estar amando sendo amado, o contrário é mesmo o miserável frio.Paixão, a idiotice necessária. Logo, primeiro se é um idiota, depois se ama e se entende estar para sempre acompanhado. Por debaixo do edredom de penas de ganso, que é o estado amoroso. Então os canais de comunicação se engarrafam. Congestionam-se as veias. Seu coração fica dilatado igual a coração de grávida. A caixa torácica torna-se pesada, a postura fica meio curva. Você levanta e parece que continua com a cadeira colada à bunda. Por fim, você corre sem sair do lugar....."

"......Grandes sentimentos são assim, atiçam os nervos, enrijecem os músculos, liberam enzimas......"

“....As texturas daquela noite me são claras além do necessário.
Um catálogo de tecelagem são as sensações que tenho; as tramas que encosto, as transparências que percebo, os relevos que sinto.Tudo ainda a flor da minha pele.Um traço de tristeza que você tatuou.....”
Fernanda Young



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